sábado, 26 de novembro de 2011

Tristão


Fiz um castelo de areia
Mais sólido que a minha pessoa
Era apenas areia de praia
E eu apenas uma pessoa comum
Não sei em que planeta
Consegui fazer-me ouvir
As coisas que são ditas
Entram e saem pelo mesmo ouvido
Mas não ficam de molho
E nem são enxaguadas
Pessoas que sofrem do mal do século
Estiveram comigo e às vezes sinto
Que fui eu que as contaminei
No entanto estou aqui
Melhor do que elas parecem estar
Pois sei que um dia minhas confissões
Surtirão algum efeito numa pessoa
Que é como meu castelo de areia.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O caminho da pedra

Por Emerson Bezerra

Eu sou a pedra no meio do caminho
Só não fiz com que jamais me esqueçam
Muita coisa podia ser melhor em mim
Um quarto bagunçado me espera
Comecei no turbilhão agora
E senti os efeitos do polimento
A vida me poda, me pole, me poda
E eu não quero enfrentá-la no momento
Tudo porque sinto demais as coisas
Agora perdi a vontade de existir
Tão no começo da minha descida
Não consigo pensar corretamente
Então sei que velha é a estrada
Ainda tenho muito que rolar
Porque sou uma pedra lascada.

Quadro de Kurosawa



Fiz um esboço do meu sonho
Com o tempo ele mudou
O esboço? Não, o sonho!
Mas o medo me impediu de seguir outro...
Eu pensei que nunca mudaria de sonho
Mudar de sonho é como matar um eu
Acho que me matei muitas vezes
Queria ser uma coisa junta
E realizar um sonho
Para depois ter coragem de separar-me
E me matar para ser a outra!
Tem um lugar onde isso da certo
É o melhor lugar se você tiver boa intenção
Espero que ele esteja limpo e espaçoso
Para caber outra eu, eu, eu, eu e eu!

Crise Existencial



Quem sou?
Sinceramente não sei.
Não sei nem para onde vou,
Ou se aqui amanha estarei
Quem sou?
 Insisto em me perguntar,
Do pensamento uma dúvida sobrou
E esta não poderia sobrar
Talvez possa me inventar
Do resto que em mim existe
Mas sempre em mim irá restar
Esta pergunta tão triste:
Quem sou?
Escritora de livros inacabados
 Pintora de quadros invisíveis?
Ou moradora da terra sem terra
Ponho em linhas palavras de quem erra
Linhas tão finas,
Palavras tão medíocres...
Medíocre também sou!
Nas lágrimas me reduzo
O meu eu se suicidou
Por estar muito confuso
Quem sou?

Variando



 Variando nas cores do crepúsculo
Levitei e plantei as tangerinas
Arremessando suas sementes ensolaradas
Voltando a estraçalhar as árvores caladas
Aliviando seu perfume: brisas marinhas
Apagando os meus crimes: a noitinha
Variando nas cores do crepúsculo.

Deixado de lado



Um monstro medita no breu do abissal
Evoca poderes intraterrenos
Desvia-se de todas as regras universais
Mas sempre tenta concertar o que está quebrado
Sonha poder ver a luz um dia
Que todo o oceano em sua cabeça apaga
E ter a força que certa vez ouviu falar
Ser capaz de suspender os sete mares
Nem que por apenas alguns segundos
Ele realmente sonha ver o céu
Nem que por apenas alguns segundos
Ele possa ver apenas uma estrela.

Mar de ventos



A gaivota voa para o alto mar
Tudo está a seu favor exceto a resistência do ar
E ela não fecha os olhos, pois está entardecendo
Qualquer um teria medo de deixar de ver o céu violeta
A gaivota voa no alto mar
O frio não a incomoda, só tem um pensamento em sua mente
E ela não fecha os olhos, pois o céu não se apagou
Apenas mudou as cores de seus pixels e
qualquer um teria medo de não poder ver a Via Láctea
A gaivota voa no alto mar
Ela não desiste, pois não tem motivos pra voar, apenas voa
E não fecha os olhos, pois está amanhecendo
Qualquer um teria medo de perder o amanhecer alaranjado

Quem semeia tempestade colhe furacões.



Alguns bêbados jogam baralho,
Sem amor as sua vidas apostam suas almas.
E quando um deles perde
Não se importa em aposta-la novamente

Dançarinas de vermelho incorporam
Um Blues desritmado
E vagarosamente o olhar vago dos bêbados
Suga suas juventudes, corroendo seus corpos.

Um pianista desiludido toca as suas tristezas
Os seus desperdícios e arrependimentos
Naquele lugar feito de madeira
Ele mora com suas frustrações

O uísque acaba e o fogo das angústias se apaga
Todos no chão sem nem um alivio
Prazeres efêmeros não curam seus vazios
Suas consciências criam o inferno na Terra.

Na rua deserta o vento faz um rodamoinho com as folhas secas.
Não há o que se ver,
Apenas um vira-lata feliz por achar um bife podre.

Admirando o mundo escondida numa trincheira

 
Mire sua vista para o nascente,
O lugar que o Sol vai quando é escuro
Atrás do lenço azul está dormente
A bela estrela mãe do meu futuro

Mergulhe seu olhar no arrebol
Lá a terra mãe ria sem motivo
Do nascente ao poente deste Sol
Ela estava pronta para o seu cultivo

Siga este calmo andarilho
Que no profundo azul parece ouro
“Zelai por nós como um pai pelo seu filho,
“Protegei-nos com a fúria de um touro”

Integre-se por completo com a terra
Assim não correrá nenhum perigo
Se sobreviver significa guerra
Certamente viver significa abrigo.

Cigana esquartejada




Coberta pela névoa na esquina
Canta belas músicas de cigana
No passado zombaram da menina
Que hoje a todos com olhar frio engana

Dançava os sons tribais

Tocando as castanholas

Fazendo rituais

Incorporando espanholas

Coberta pela névoa a menina,
Gritava fragmentos da cabala
Perderam-na no meio da neblina
Vermelha atingida pela bala

Rastejava pelo chão 

Parecia uma iguana 

Uivava na escuridão

A sua música profana

Coberta pela névoa, a esquina
Tornava-se apenas uma estrutura
Que sabia tudo da menina
Corrompida, esquecida e impura

Contando essa história 

Parece que é em vão 

Permanece na memória,

         Que o tempo é um ladrão.        

Angústias


Bilica pegou a bicicleta e foi pra bica, Menelau era um fresco, as pessoas não entendem isso. Como podemos viver assim? Quando alguém chora os mentecaptos logo acham que esse alguém precisa de ajuda, que mundo é esse que as pessoas que choram estão com problemas? Farofa com feijão empapa, quando eu crescer, quero ser papa. Talvez uma de Neston, talvez Cremogema com sazon. Vou passear, cheirar fumaça de caminhão! Ai que cheirinho bão. Bilica seu cachorro bestão vá lamber sabão! Você acabou com minha vida seu cão! Autoajuuuuuuuuda me acuuuuuuuda, preciso de ajuuuuuuuda. Quero ter uma blusa felpuuuuuuuuuda! Quero ser uma Éris, quero ser a panaca que tu feres.          

Luas ilesas




O sol nasceu, o mel está ácido
 Livre de sua idiotice natural
Satã queria um inferno plácido
Pena que foi vítima de um Deus boçal

Eu selei minhas luas ilesas
O gramado celeste parecia estar quente
Tornei-me amazona em minhas tristezas
Nem a chave do além abrirá minha mente

O teu sabre parece tão cego, que
Nem o teu amor a ele se equipara
Se continuares a martelar este prego
Tornar-me-ei a Lilith que um dia sufocara

Estado de espírito


Aqui jaz minha alma triste
Aqui jaz minha triste alma
Nem mesmo ela sabe se existe
E morbidamente ela se acalma

Como sempre insatisfeita
Por que é vítima dessa desfeita?
Nem mesmo ela sabe se existe
Aqui jaz minha alma triste

Orgia escalafobética



No abismo profano
Pairavam as pítias
E como mestras do engano
Tornaram-se ricas
Nas águas escuras
Penetravam as barcas
Com bruxas impuras
Carregando arcas
O uivo dos coiotes
O soar do luar
Faziam os velhotes
Dançarem sem parar
Serpentes lunáticas
Raposas flamejantes
Tornaram-se intactas
Ao homem murmurante
Gôndolas sabotadas
Perdiam-se no som
De harpas encantadas
Golpeadoras do que é bom
Ao fim dessa lúgubre
Noite escalafobética
Louvavam o lume
Boçais ervas patéticas