segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O ensino de física no Brasil.



           
Há um texto famoso do físico Richard Feynman em “O Senhor está Brincando, Sr Feynman”, onde ele conta sua experiência como professor de física no Brasil. Entre outros problemas em nossa educação ele fala que aqui a aprendizagem da física é feita através de “decorebas”, os alunos não gostam de fazer perguntas e os livros adotados não fornecem conhecimentos sinceros que pudessem ser reproduzidos experimentalmente.
A meu ver, os problemas do ensino de física no Brasil, partem dos nossos problemas gerais na educação. Os salários dos professores são baixos, então os alunos que saem mais capacitados das Universidades acabam por seguir outras áreas. Temos também visto certo preconceito dos bacharéis em relação aos licenciados, até as bolsas das licenciaturas são menores do que as do bacharelado. Os professores poucas vezes optam por uma aprendizagem mais intuitiva, partindo de coisas que os alunos já conhecem, não a tornando assim, significativa. É claro, que existe também um fator histórico associado ao problema. O primeiro sistema educacional do Brasil que seguia o ratio studiorum* primava por métodos decorebas. Os alunos não estudavam a ciência que estava sendo produzida em países protestantes, pois isso os faria questionarem os ensinamentos cristãos dos jesuítas. Depois que o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas a favor de ideais iluministas, a educação no Brasil que devia ter melhorado igualmente a de Portugal, ficou abandonada. Não havia um plano curricular formulado e tudo dependia das aulas régias. Em 511 anos de história, tivemos quase 300 anos de ensino religioso, onde não havia nenhum incentivo ao pensamento científico. Na época do império, o ensino primário foi negligenciado, pois era de costume, os nobres mandarem seus filhos estudarem na Europa ou com tutores. Quanto ao resto da população, não havia muito interesse econômico em educá-la. No século XX, diversas reformas influenciadas por ideais positivistas implantaram nos currículos disciplinas de exatas e ciências naturais.
Um dos principais físicos brasileiro, José Leite Lopes, lutou pela criação da CBPF- Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e pela melhoria dos cursos de física no Brasil, principalmente no Norte/ Nordeste. Ele criticava a cultura de pappers e divulgava a idéia de que o Brasil nunca deixaria de ser um país de terceiro mundo, enquanto não desse importância as exatas.
Hoje nosso sistema ainda possui grandes falhas, como por exemplo, o vestibular. Nosso vestibular, não estimula o pensamento crítico na física, as provas são decorebas e não estimulam o uso de laboratórios. Que tipo de ciência não é fundamentada na realidade? Como disse o Feynman é realmente surpreendente que alguém consiga aprender num sistema desses.
Muitos alunos entram na física por causa do fascínio por ficção científica, até gostam de questionar e de pensar. Ao entrar em contato com professores frustrados e que não valorizam a didática por serem pesquisadores, a maioria desiste. Num curso que herda da ditadura o sistema de turmas mistas de vários cursos de exatas, não se cria nenhum sentimento de turma, pois os colegas não conhecem a todos no primeiro ano cursado. E sem falar que por causa disso os estudantes de física não tem um ensino voltado para a física, pois os interesses na sala são diferentes.
Ainda temos o problema dos professores que se voltam desde a graduação apenas para a vida acadêmica e que não sabem se expressar de forma adequada para dar aula. E por algum motivo que eu ainda não entendo, muitos se orgulham de reprovar muitos alunos. Estes professores tratam o conhecimento como algo de difícil alcance que alunos normais não conseguem aprender.
No entanto temos evoluído bastante para um país que tem apenas 100 anos de ciência e o acesso ao conhecimento está muito mais fácil ultimamente. Assim podemos esperar que mais alunos “anômalos” superem o sistema.