quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O brilho eterno.

Ruminante fotografado por Chico.

O homem teme cair no esquecimento, de alguma forma tentamos deixar nossa marca na Terra. Aquiles, o herói grego, representou bem isso ao escolher uma vida curta e gloriosa ao invés de uma vida longa e anônima (John Lennon ou Ringo!). Quando Ulisses encontra Aquiles no Hades, ele lamenta a sua escolha. De certa forma muitos de nós fazemos a escolha de Aquiles, Dalai Lama disse: “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem-se do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... E morrem como se nunca tivessem vivido.”   
É muito difícil deixar de aproveitar a vida, ficar menos tempo com os amigos e a família, para ficar na solidão do estudo e determinados trabalhos. E mesmo assim fazemos isso constantemente acreditando que esse é o caminho do sucesso. Sobrenomes tentam perpetuar algum antepassado e constelações os heróis e os mitos. Em nossa história, raramente recordamos das pessoas medianas, apenas os extremos nos interessam. A efemeridade nos assusta, então surge o carpe diem ao extremo. A juventude tem uma ânsia de aproveitar a vida ao máximo, de forma que se torna irresponsável. E assim muitos reduzem suas vidas aproveitando de forma exagerada.
Na Grécia antiga havia um conceito que lembra o caminho do meio do budismo, a húbris (tudo que passa da medida, descomedimento). Muitos mitos foram punidos por causa da sua presunção, geralmente querendo superar os Deuses, como Aracne e varias gerações de homens. Ícaro derreteu suas asas por voar alto demais, Belerofonte perdeu Pégaso tentando chegar ao Olimpo, assim como a mitologia cristã, o Satanás e os homens da Torre de Babel também foram castigados pela presunção ou orgulho. Particularmente, não creio em castigos divinos, no entanto é obvio que pessoas que fogem das medidas costumam sofrer mais do que o normal. E os orgulhosos e presunçosos são rejeitados pela própria sociedade e acabam se isolando. Ninguém agüenta conviver com pessoas que ficam se gabando 24h, mas isso de ficar se promovendo é só mais uma forma do medo de ser esquecido.
 E temer que o que você estudou sua vida inteira não é uma boa teoria ou não tem aplicação? Tycho Brahe disse a Kepler antes de morrer: Não me deixe parecer ter vivido em vão.  Imagine, você gasta noites e noites com observações e anotações e perto de morrer, você sente que pode ter vivido em vão. A vida para Tycho resumia-se ao trabalho dele e se tudo não tivesse nenhum valor, a vida não teria significado. Por sorte Kepler aproveitou bem a “vida” de Tycho e hoje a gente se lembra dele.  Colocar nossos nomes em fórmulas, leis e espécies é um modo de dizer lembre-se de mim por ter passado horas trabalhando nisso!
Bom, eu já quis me imortalizar, queria que meu cérebro fosse conectado a um super computador após a morte do meu corpo! rs. Hoje eu percebo que estarei sempre no mundo, só que diferente, pois nada se perde, tudo se transforma. E qual Carol seria imortalizada? Não vejo mais sentido em congelar uma idéia no tempo. Nós mudamos sempre e não somos sempre as mesmas pessoas que passam por um rio, e o próprio rio não é o mesmo. Leiam Sidarta, é um livro legal relacionado ao assunto. E pesquisem mais sobre a húbris ou hybris, pois é um conceito muito amplo e cheio de referências.    

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